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Influência do Peso Corporal sobre o alinhamento postural de obesos

  • INFLUÊNCIA DO PESO CORPORAL SOBRE O ALINHAMENTO POSTURAL DE OBESOS

1 INTRODUÇÃO

A obesidade é um dos mais antigos distúrbios metabólicos existentes no mundo, e é classificada de acordo com o índice de massa corporal (IMC), reconhecido como padrão internacional para avaliar o grau de obesidade. Para ser considerado obeso o indivíduo deve estar com seu IMC igual ou maior que 30 kg/m2 (ABESO, 2016).

A prevalência da obesidade aumentou drasticamente nas últimas décadas em países de alta e baixa renda entre adultos, crianças e adolescentes (PEREIRA, 2007). Isso ocorre porque a população mundial vem adquirindo hábitos alimentares pouco saudáveis, além de um estilo de vida menos ativo (SANTOS, 2006).

No Brasil, mais da metade da população (56,9%), com 18 anos ou mais, estão acima do peso (BRASIL, 2015); um dado preocupante, uma vez que em qualquer de suas formas de manifestação (graus I, II e III), a obesidade aumenta o risco para doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, doenças musculoesqueléticas e alguns tipos de câncer. Além disso, o acúmulo de gordura na região abdominal altera o perfil metabólico, com diminuição da tolerância à glicose, redução da sensibilidade à insulina e perfis lipídicos adversos (WHO, 2008).

No sistema musculoesquelético as alterações ósteo-articulares advindas da obesidade, diminuem a estabilidade e aumentam as necessidades mecânicas provocando uma adaptação corporal que pode variar de intensidade dependendo da maturação do organismo (POIRIER et al., 2006). Mudar as posturas ditas anormais é difícil e exige extensa avaliação e tratamento. Assim, a avaliação postural é importante para o diagnóstico, planejamento e para o acompanhamento da evolução e dos resultados do tratamento fisioterapêutico (BATISTA et al., 2006).

Quanto mais precocemente são identificadas as possíveis alterações posturais, torna-se possível a elaboração de uma intervenção fisioterapêutica capaz de minimizar desgastes articulares ou até mesmo a realização de ações de prevenção dessas alterações, reduzindo o risco de futuras complicações músculo esqueléticas.

Assim, este estudo teve por objetivo verificar as possíveis alterações posturais relacionadas à obesidade e avaliar os efeitos da perda de peso, resultante da cirurgia bariátrica, sobre o alinhamento corporal.

 

2 MÉTODOS

Este estudo caracteriza-se por ser do tipo de coorte retrospectiva, pois a amostra foi acompanhada ao longo do tempo sem que se tenha sido realizada alguma intervenção.

A amostra foi composta por 20 (vinte) indivíduos obesos que realizaram cirurgia bariátrica em um Centro Terapêutico de Obesidade do interior do estado do Rio Grande do Sul (RS), no período de 2012 a 2016. Foram excluídos do estudo sujeitos com idade inferior a 18 ou superior a 60 anos e também indivíduos cujas fotos de avaliação postural não tivessem sido realizadas de forma adequada para avaliação dos ângulos.

Foram analisados os prontuários do banco de dados de um Centro Terapêutico da Obesidade no interior do Rio Grande do Sul onde já constava o termo de consentimento livre e esclarecido de cada sujeito com autorização da utilização dos seus dados para pesquisa, sendo preservada a identidade do mesmo, obedecendo à resolução no 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Também este estudo foi analisado e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade de Cruz Alta sobre o CAAE 66813317.5.0000.532.

Os dados utilizados para a caracterização da amostra foram os seguintes:

Peso: medido em Quilogramas (Kg), sempre verificado pelo mesmo avaliador, na mesma balança da marca Toledo;

Altura: medida em metros (m), sempre aferida pelo mesmo avaliador, através do estadiômetro da marca Charder;

IMC: medido em (Kg/m2);

Medida da cintura: em centímetros, sempre aferida pela nutricionista do Centro, ou seja, mantendo a fidedignidade do mesmo avaliador. Segue as recomendações do Anthropometric Standardization Reference Manual (NORGAN, 1988), mensurando a menor cintura entre o tórax e o quadril.

Medida do quadril: em centímetros, seguindo o padrão de ser sempre realizada pelo mesmo avaliador. Também utilizando como referência as recomendações do Anthropometric Standardization Reference Manual (NORGAN, 1988), medido a porção de diâmetro do quadril.

Índice Cintura Quadril (ICQ): é calculada dividindo-se a medida da circunferência da cintura (em centímetros) pela medida da circunferência do quadril (em centímetros).

Percentual de gordura (% gordura): verificado através do exame de bioimpedância corporal (InBody 520 Análise de Composição Corporal).

Para a verificação da influência da obesidade sobre a postura corporal, foram utilizadas as medidas das variáveis na primeira consulta de avaliação pré-operatória, onde também foram realizadas as fotos da avaliação postural. Para a verificação dos efeitos da perda de peso sobre a postura corporal, foram utilizadas as fotos de avaliação postural realizadas nas consultas de seis meses e um ano pós-operatório, comparando-as com o período pré-operatório. As fotos foram realizadas com vista anterior, lateral e posterior diante de um posturógrafo com os indivíduos em trajes de banho. Para a verificação dos ângulos posturais, as fotos foram analisadas através do programa de fotogrametria Kinovea. A Figura 1 ilustra as marcações das angulações utilizadas:

 

Figura

 

Os dados coletados foram submetidos à estatística descritiva e inferencial. Os dados quantitativos foram descritos em forma de valores brutos e percentuais para as variáveis antropométricas e angulação dos desvios posturais. Foi utilizada a análise de variância ANOVA entre os tempos avaliados e Teste de Tukey com nível de significância de 95% (p≤0,005) para verificar as diferenças.

 

3 RESULTADOS

A amostra total do estudo foi composta por 20 indivíduos obesos, que realizaram a cirurgia bariátrica e foram acompanhados pelo período de um ano. Destes, 95% eram do gênero feminino e 5% do gênero masculino. A Tabela 1 apresenta os dados referentes às características dos indivíduos avaliados pelo estudo.

 

Figura

 

Para verificar a influência da obesidade sobre a postura, foram correlacionadas algumas variáveis antropométricas avaliadas no período pré-operatório com as principais curvaturas posturais.

Como pode ser observada na Tabela 2, os dados mostram que são fracas e sem significância estatística as correlações entre o alinhamento postural e as medidas antropométricas; apenas o percentual de gordura relacionado com o ângulo lombar apresentou correlação significativa.

Apesar de as correlações das medidas antropométricas não terem sido relevantes, foi possível observar que o pré ângulo cervical tem uma relação direta com ICQ e percentual de gordura. Já na relação com o peso, IMC, cintura e quadril, o ângulo cervical apresentou-se inversamente proporcional. O pré-ângulo torácico apresentou uma correlação inversa com quase todas as variáveis antropométricas, exceto com o peso. O pré-ângulo lombar também apresentou uma correlação inversa com a maioria das variáveis antropométricas, com exceção apenas do ICQ. A única correlação significativa observada neste estudo foi do pré-ângulo lombar com o percentual de gordura, indicando que quanto maior o percentual de gordura menor foi o pré-ângulo lombar.

Avaliando a relação dos ângulos dos joelhos esquerdo e direito com todas as variáveis, percebeu-se uma correlação negativa com praticamente todas as medidas, sendo positiva apenas em cintura relacionada com joelho esquerdo, e ICQ relacionado com joelhos direito e esquerdo.

 

Figura 

 

Neste estudo foi possível observar que a perda de peso corporal provocou alterações nos ângulos posturais de forma gradativa, sendo significativa após o maior emagrecimento, que se deu aos doze meses de pós-operatório, como é possível observar na Tabela 3.

Ao analisar em separado cada ângulo postural, verificou-se que apenas o ângulo cervical não apresentou uma variação significativa ao longo dos doze meses de pós-operatório. Já a região torácica teve um aumento significativo na sua angulação (p=0,014), o qual nesse estudo refere-se a uma redução na hipercifose torácica. No ângulo lombar, o emagrecimento obtido até os seis meses foi suficiente para tendenciar um aumento da angulação, mas este só foi significativo após o emagrecimento ocorrido aos doze meses (p=0,005).

A análise dos ângulos dos joelhos também demonstrou uma variação significativa, apresentando uma redução no valgismo.

Figura 

4 DISCUSSÃO

Apesar de a crescente prevalência de obesidade envolver ambos os sexos, todas as classes sociais e níveis culturais (RANGEL et al., 2007), no presente estudo a maioria da amostra foi composta pelo sexo feminino (95%). Dado similar a outros estudos com adultos que realizaram cirurgia bariátrica, também mostram dados com maioria do sexo feminino, 76,6% e 75% respectivamente em suas amostras (LEHMANNETAL, 2006; RANGEL et al., 2007). Essa maior proporção de mulheres entre as pessoas submetidas à cirurgia bariátrica pode ter várias explicações, desde a possibilidade de uma maior prevalência de obesidade no sexo feminino em determinadas populações, até a maior preocupação das mulheres com a saúde ou, mesmo, com a aparência física, tendo em vista os padrões estéticos vigentes na atualidade (ZYGERETAL, 2016).

Em relação ao peso corporal da amostra, a média no período pré-cirúrgico foi de 110,98 kg, reduzindo 27,65% em seis meses e 35,14% em doze meses de pós-cirurgia, compondo uma média de perda de peso de 39 kg neste estudo. Este comportamento também é relatado pela literatura que demonstra uma perda mais intensa no primeiro semestre que após de torna lenta e contínua, atingindo perda de 35 a 40% do peso inicial entre o primeiro e segundo ano após a realização da cirurgia (GARRIDO et al., 2013). Esta maior redução de peso aos 12 meses pode ser a explicação para a significância das melhoras no alinhamento postural ter sido observada neste período.

De acordo com estudo realizado por Sun et al. (2015), quanto maior o IMC maior a distribuição de gordura anormal, tendo como consequência as desvantagens neuromusculares, contribuindo, assim, para a instabilidade postural. No entanto, no presente estudo não foi observada essa relação, pois o IMC não apresentou correlação significativa com os ângulos das curvaturas da coluna e dos joelhos dos obesos antes da cirurgia.

Contudo, como pode ser observado na Tabela 3, o emagrecimento promoveu modificações significativas após a perda em média de 35,14% do peso corporal que se deu aos 12 meses de pós-operatório nas regiões torácica e lombar, apenas a região cervical não se alterou significativamente, mantendo-se dentro dos valores de normalidade antes e depois da cirurgia. Segundo um estudo realizado por McAviney e colaboradores (2005), que teve como objetivo investigar parâmetros de lordose cervical funcionalmente normal de forma retrospectiva em 277 imagens de radiografia, um intervalo angular entre 20° a 40° é considerado funcionalmente normal, sendo considerada retificação cervical abaixo de 20°e hiperlordose acima de 40°; intervalos estes que demonstram uma predisposição ao aparecimento de variados sintomas cervicais.

Uma hipótese para o aumento significativo do ângulo lombar é que a gordura localizada na região possa ter dificultado a visualização exata da curvatura lombar em virtude do método de avaliação utilizado, sendo que com o emagrecimento torna-se possível uma melhor análise desta estrutura. Comparando com valores preditos como normais para esta região (homens 41º±11º e mulheres 46º±11º), parece haver uma tendência à hiperlordose com o emagrecimento (FERNANDES; MACIEL JÚNIOR, 2011). Também o grupamento muscular do abdome comprime os conteúdos abdominais, com uma pressão contrária à causada pela curvatura lombar, resistindo à hiperlordose (FRITZ et al., 2002). Com o emagrecimento em grande escala, o indivíduo acaba reduzindo um pouco sua massa muscular também, o que pode alterar o tônus muscular da parede abdominal fazendo com que essa região enfraquecida não impeça a anteriorização das vísceras (HUNGRIA, 1986), tendenciando à hiperlordose.

Os indivíduos da pesquisa obtiveram uma redução importante no valgismo, o que possivelmente está relacionado com a perda de gordura na região das coxas, indicando que essa alteração não estava estruturada. Essa mudança de ângulo se deu a uma provável sobrecarga que estava modificando seu alinhamento, pois observa-se que obesos têm mais tendência ao joelho valgo (55,1%) quando comparados a não-obesos (DE PINTO et al., 2006).

 

5 CONCLUSÃO

Conclui-se que a obesidade não afetou de forma significativa o alinhamento postural a ponto de alterar patologicamente os principais ângulos posturais. Contudo, a perda de peso observada após 12 meses de cirurgia bariátrica promoveu uma melhora significativa dos mesmos, tendenciando a um incremento positivo no que tange a prevenção de lesões e morbidade futura.

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